Megalopolis: A Grande Visão de Francis Ford Coppola é Um Caos Ambicioso
O projeto ambicioso e autofinanciado do diretor tem muita audácia. Pena que não tenha tanta disciplina.
Ah, como queremos amar “Megalopolis”, a grande extravagância de Francis Ford Coppola, que parece ser sua grandiosa despedida cinematográfica. Ficamos maravilhados com o elenco composto por centenas de pessoas, os deslumbrantes cenários em CGI e os nomes de personagens que parecem saídos de uma obra de Pynchon (Wow Platinum! Hamilton Crassus III! Vesta Sweetwater!). Desejamos ser conquistados pela pura audácia deste projeto: uma épica de 120 milhões de dólares, financiada por sua própria vinícola, que mistura a Roma Antiga com uma Nova York moderna, comandada por um César que é metade Robert Moses, metade o arcanjo Gabriel.
Mas, ah, que bagunça este filme é — uma gloriosa bagunça, inegável, resultado de muita ambição, muitas ideias, muitos personagens e pouca disciplina. Coppola ainda sabe como fazer um filme, mas parece ter esquecido como estruturar uma cena. A maior parte de “Megalopolis” consiste em atores talentosos improvisando em cenários gigantescos, andando sem rumo e esbarrando em coisas. É um filme tão abarrotado quanto um vagão de metrô lotado, remetendo a outro desastre amado do diretor, “Do Fundo do Coração” (1982), mas com os mesmos problemas amplificados.
Dito isso, é “Megalopolis” o filme que Coppola quis fazer por mais de 40 anos? Sem dúvida. É uma ode fora de moda ao otimismo e à liberdade de criar, uma visão tão generosa quanto louca, transbordando de invenção delirante? Com certeza.
O César mencionado anteriormente, na verdade, se chama Cesar Catilina, interpretado por Adam Driver com um corte de cabelo que é um dos vários toques visuais que unem o antigo Império Romano com a Nova Roma de Coppola. Cesar é, ele próprio, um visionário com um escritório no alto do edifício Chrysler. Logo no início do filme, ele vai à beira da sacada e, com um estalar de dedos, faz o tempo parar. Um truque interessante, mas não muito útil para urbanistas, que geralmente preferem reverter ou acelerar o tempo.
Contra o plano do herói para uma nova Nova Roma, renomeada Megalopolis e construída de uma substância que muda de forma chamada Megalon, está toda a burocracia da cidade, liderada pelo prefeito Cicero (Giancarlo Esposito) e uma galeria de vilões digna de um tríptico de Hieronymus Bosch: Dustin Hoffman como um solucionador de problemas com jeito de rato, Jason Schwartzman e Balthazar Getty como lacaios, e assim vai, descendo a linha de políticos e assessores corruptos. Jon Voight interpreta Hamilton Crassus III, o cidadão mais rico da Nova Roma, e Shia LaBeouf faz o papel de seu filho Clodio, uma mistura de Puck de Shakespeare com Gollum de Tolkien, que atua como o trapaceiro maligno da trama. (LaBeouf também é um dos poucos atores que parece estar genuinamente se divertindo.)